Paloma Oliveto
postado em 09/02/2010 11:45

Todas essas atividades são consideradas integrativas, pois partem do princípio que a abordagem médica tem de levar em conta o indivíduo como um todo, e não apenas cuidar de um órgão ou um sintoma específico. De acordo com o médico e homeopata Ícaro Alves de Alcântara, coordenador da ouvidoria do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, as práticas integrativas não são consideradas uma especialidade médica reconhecida pelos órgãos regulamentadores e de classe. Trata-se, na verdade, de um ;nome fantasia;, como define, que abrange atividades holísticas e naturais, que possam ajudar na melhoria da qualidade de vida do paciente.
;Essa abordagem integrativa preocupa-se com todos os sinais e sintomas da pessoa, porque o corpo é um sistema fechado, e todos os sintomas têm relação entre eles;, diz. ;Hoje, a aceitação é cada vez maior. O paciente não quer mais tomar um remédio atrás do outro. Quer algo mais profundo e natural;, afirma. De acordo com Alcântara, autor do livro Qualidade de vida, qualidade é vida, geralmente, as pessoas que procuram práticas complementares já aram por vários tipos de especialidades médicas, sem conseguir alívio para seus problemas.
Na casa da servidora pública Rosana Barreto Melo Ramos, 48 anos, a família toda é adepta das práticas holísticas. Quando o filho mais velho tinha 2 anos, Rosana já estava cansada de buscar a solução para a amigdalite da criança e resolveu consultar um homeopata. ;Meu marido era cético e desafiou o médico. Vinte e quatro horas depois, meu filho não tinha mais nada, nem febre;, conta. Desde então, as terapias naturais substituíram os medicamentos alopatas. Também mãe de Bianca, 13, e Bárbara, 18, Rosana afirma que, se as meninas tomaram antibiótico duas vezes na vida, foi muito. ;Medicina alopática, só se for de emergência;, diz Rosana, que trata de um problema no nervo ciático com acupuntura.
Bárbara, formada em relações públicas, procurou a homeopatia para cuidar de uma forte rinite. ;Em quatro meses, eu estava curada;, garante. Depois, como estava estressada com o término de um namoro e com os trabalhos finais da faculdade, resolveu continuar o tratamento. Hoje, faz acupuntura. Foi também com as terapias naturais que a irmã mais nova, Bianca, patinadora profissional, cuidou de uma lesão no pé, adquirida durante um treinamento. ;Aqui, a gente só usa esse tipo de medicina;, enfatiza Bárbara.
Pioneirismo
Primeira unidade federativa no Brasil a adotar a medicina integrativa na rede pública, o Distrito Federal oferece, desde 1989, diversas atividades, que vão da acupuntura à arteterapia, ando por automassagem, Lian Gong, shantala, meditação, homeopatia, fitoterapia e medicina antroposófica. ;O que todas essas práticas têm em comum é que não trabalham a fragmentação do sujeito. Buscam uma abordagem integral, não focando apenas uma doença, mas essa visão ampliada, utilizando mecanismos naturais de cura;, diz o médico Divaldo Dias Mançano, chefe do Núcleo de Medicina Natural e Terapêutica de Integração (Numenati) da Secretaria de Saúde do DF.

O chefe do Numenati afirma que uma das características mais interessantes da medicina integrativa é a coparticipação do paciente. ;O sujeito fica mais envolvido. Ele tem de dirigir novos olhares para sua própria vida. Com isso, chegamos à desmedicalização: o sujeito tem uma autonomia e não precisa recorrer sempre ao sistema de saúde;, afirma. No DF, está em curso uma pesquisa sobre o atendimento associado da alopatia e da homeopatia para portadores de HIV/Aids. ;Ainda temos um ano de estudo pela frente, mas pelos inúmeros depoimentos relatados por pacientes de várias enfermidades, sabemos que há um impacto grande na qualidade de vida;, diz.
Além do resultado positivo na saúde dos pacientes, a medicina integrativa mostrou que também representa uma boa economia para os governos. Em Campinas (SP), a Secretaria de Saúde registrou, em 2006, uma redução de 12,5% no consumo de anti-inflamatórios em relação a 2005, o que foi atribuído à oferta de acupuntura para diminuição das dores dos pacientes.