
A Embaixada dos Estados Unidos emitiu, ontem, um alerta sobre a segurança de cidadãos norte-americanos, advertindo-os de que "exerçam maior cautela no Brasil devido ao crime e sequestro". O "Aviso de Viagem" recomenda, ainda, que os visitantes evitem certas regiões do Brasil, pois "algumas áreas apresentam risco maior" — entre as quais se incluem regiões istrativas do Distrito Federal, como Ceilândia, Santa Maria, São Sebastião e Paranoá. Trata-se de mais um degrau na escala de tensões entre Brasil e EUA, cujo Departamento de Estado também remeteu ontem, ao Ministério da Justiça, um ofício sobre a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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No comunicado para o Brasil, a representação diplomática detalha o panorama de segurança no Brasil. Crimes violentos, incluindo assassinatos, roubos à mão armada e de carros, são descritos como eventos que "podem ocorrer em áreas urbanas, de dia e de noite". O informe também confirma que "houve um sequestro com pedido de resgate de viajantes dos EUA" — não diz, porém, a que episódio se refere e não dá pistas de quando teria ocorrido.
A existência e o poder de facções criminosas são destacados pelo comunicado da embaixada. Para o governo norte-americano, o crime organizado é "generalizado" no Brasil e tais criminosos estão associados ao tráfico de drogas recreativas.
Outro crime citado pelo informe da representação norte-americana é a prática de confrontos físicos. "Agressões físicas, com uso de sedativos e drogas colocadas em bebidas", são consideradas "comuns", segundo o aviso aos viajantes dos EUA, que, segundo a embaixada, ocorreriam com frequência no Rio de Janeiro. Em todo o Brasil, seriam comuns os contatos por meio de aplicativos de namoro ou de abordagens em bares para, então, "drogar e roubar" as vítimas, que geralmente — ainda na visão do alerta do governo de Donald Trump — são estrangeiras.
O transporte público também é motivo de atenção no alerta, segundo o qual "funcionários do governo dos EUA são aconselhados a não usar ônibus municipais no Brasil devido ao sério risco de roubo e agressão" — "especialmente à noite", enfatiza. Para a embaixada, "ageiros estão em maior risco de roubo ou agressão ao usar ônibus públicos no Brasil".
Fronteiras
Além dos riscos de crimes em áreas urbanas e no transporte público, o governo norte-americano recomenda, explicitamente, que cidadãos dos EUA "não viajem para qualquer lugar dentro de 160km das fronteiras terrestres do Brasil". Classificada com o Nível 4 — a mais severa na escala de alertas e costuma ser usada para áreas com risco significativo à segurança dos viajantes, como zonas de conflito ou regiões com altos índices de violência —, esta restrição aplica-se às áreas fronteiriças com Bolívia, Colômbia, Guiana, Guiana sa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela. O governo de Washington recomenda que os viajantes consultem a seção de "Viagens a Áreas de Alto Risco" em seu site oficial para mais detalhes.
Para aqueles que, apesar dos riscos, decidem vir ao Brasil, a embaixada faz algumas recomendações. Entre elas, destacam-se a importância de ficar atento ao seu entorno e não resistir fisicamente a tentativas de roubo. É crucial, na avaliação da representação diplomática, não aceitar comida ou bebidas de estranhos e sempre vigiar as próprias bebidas.
O aviso sugere cautela ao caminhar ou dirigir à noite, evitar ir a bares ou boates sozinho e evitar caminhar nas praias após o anoitecer. Viajantes não devem "exibir objetos valiosos", como relógios caros ou joias. É fundamental ficar "alerta ao visitar bancos ou caixas eletrônicos".
Outras recomendações incluem maior cautela ao fazer trilhas em áreas isoladas e desenvolver um plano de comunicação para monitorar a segurança. O registro no Programa de Inscrição de Viajantes Inteligentes (STEP) e a revisão de relatórios de segurança e informações de saúde são aconselhados. A embaixada também "recomenda fortemente" a compra de seguro de viagem com cobertura para evacuação, assistência médica e cancelamento.
Preconceito
Também estão sob a classificação de Nível 4, as cidades de Ceilândia, Santa Maria, São Sebastião e Paranoá — devem ser evitadas, especialmente no período entre as 18h e as 6h. A justificativa para a medida são os riscos relacionados à criminalidade. Nas ruas de Ceilândia, a população não concorda com a posição do governo norte-americano. Arthur Fernandes, de 28 anos, é morador da cidade e trabalha com a família como comerciante próximo à estação de metrô Centro Metropolitano. Para ele, a cidade não é, necessariamente, mais perigosa do que outros locais do Distrito Federal.
"Acho que perigoso é onde o humano estiver. É uma comunidade, também como qualquer outra. Fico sozinho, às vezes, na rua, assim, tomando uma cerveja e nunca me aconteceu nada. Sobre essa alegação de sequestro [do governo norte-americano], é algo que seria muito organizado, um crime grande. O máximo que já vi foram batedores de carteira. Me sinto tranquilo de estar aqui, inclusive com meu filho", disse.
O autônomo Vinicius Loreno, de 27 anos, também discorda do alerta da embaixada dos EUA. "Acho que é uma visão preconceituosa, claramente de alguém que nunca veio até aqui", afirmou. Segundo ele, o crime acontece em qualquer lugar e definir Ceilândia como perigosa é injusto. "Acho que por ser um lugar que tem algumas comunidades de classe mais baixa, surge esse preconceito. Nunca ei por nenhuma situação aqui e moro há muito tempo na cidade", garantiu.
Mas há, também, quem concorde com a preocupação dos norte-americanos. Distribuindo panfletos em estações de metrô da Ceilândia, Giliane Alves, de 21 anos, acha a região perigosa. "Moro na QNM 33 e, realmente, é muito perigoso. Recentemente, vi uma moça sendo perseguida por um homem. Se as pessoas não tivessem a ajudado, ela poderia ser assediada ou sequestrada. Então, acho que a embaixada não está errada", relatou, ressaltando que, por ser mulher, sente-se ainda mais insegura nas ruas.
Procurados pelo Correio, o Ministério das Relações Exteriores informou que não comenta "decisões publicadas por embaixadas" e a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) afirmou não ter formalizado uma posição.
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Francisco Artur de Lima
RepórterJornalista soteropolitano em Brasília, com experiência nos jornais O Estado de S.Paulo e A Tarde. Hoje, integro a equipe da editoria CB Online