O Ministério Público da Bahia pediu a preservação de área de escavações que pode abrigar o maior cemitério de escravizados da América Latina. Localizado em Salvador, o espaço abriga mais de 100 mil corpos de vítimas da escravidão e pessoas que viviam à margem da sociedade, como pobres, indigentes e excomungados.
O processo para reconhecimento do sítio arqueológico foi encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, caso seja reconhecido, o local será conhecido como ‘Sítio arqueológico Cemitério dos Africanos’.
"A primeira intervenção no solo teve 1x3 metros de diâmetro e a segunda teve de 2x1 metros, e foi nesse espaço, a 2,7 metros de profundidade, que os arqueólogos localizaram as primeiras ossadas, incluindo ossos largos e dentes", citou o Ministério Público da Bahia.
De acordo com os pesquisadores, o terreno ácido e úmido deixou o material extremamente frágil e, por se tratar de um patrimônio sensível, a equipe de arqueólogos optou por não divulgar imagens das ossadas e nem retirá-las do local. Foi colocada uma cobertura nas ossadas encontradas que ajudará na preservação do material.
Outros pequenos fragmentos de ossos encontrados pelos pesquisadores serão encaminhados para a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e permanecerão guardados lá até serem decididos os novos os da pesquisa.
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“A partir dessa positivação das suspeitas que havia em relação à existência desse cemitério, o Ministério Público agora adotará providências para preservar esse local, que já deve ser considerado um sítio arqueológico. Daqui para frente temos muitos caminhos de como construir coletivamente essas soluções e o Ministério Público inicia um processo no sentido de respeito a todos os interesses dos grupos envolvidos nessa descoberta”, destacou a promotora de Justiça Lívia Vaz.
Ao Correio, a arqueóloga Jeanne Dias, coordenadora do projeto, frisou que a equipe fez a recomposição da área para evitar que os vestígios encontrados sofram decomposição e uma deteriorização ainda maior. "A gente espera que a sociedade, a partir da localização do cemitério, possa discutir um pouco das suas estigmas sociais, das máculas sociais", cita.
O local foi identificado como parte do antigo Cemitério do Campo da Pólvora, que teria funcionado entre o final do século XVII e meados do século XIX. “Esse cemitério foi invisibilizado por camadas de aterro que escondiam a verdadeira história da cidade. Mas ele estava ali, esperando ser encontrado. Estamos diante de uma reparação histórica”, citou o arqueólogo Luiz Antônio Pacheco.
O projeto Levantamento Arqueológico na Área do Antigo Cemitério do Campo da Pólvora foi financiado pela empresa Arqueólogos.
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