A alimentação infantil é, sem dúvida, um dos temas que mais geram dúvidas e ansiedade entre pais e cuidadores. Em meio a conselhos de familiares, informações de amigos e o vasto universo de dados da internet, é fácil se perder em um mar de mitos e práticas não comprovadas. A preocupação com o crescimento saudável dos filhos, o medo de deficiências nutricionais ou de desenvolver maus hábitos alimentares impulsiona essa busca por informações, mas também abre espaço para desinformação.
Desde a introdução dos primeiros alimentos sólidos até a formação de um padrão alimentar na infância, cada fase da alimentação de crianças é crucial e repleta de particularidades. Práticas comuns, muitas vezes adas de geração em geração, podem não estar alinhadas com as evidências científicas mais recentes. Desmistificar essas crenças é fundamental para que os pais possam tomar decisões informadas e baseadas no que realmente importa para nutrir seus filhos de forma segura, prazerosa e eficaz, construindo as bases para uma vida adulta saudável.
Mitos comuns na alimentação infantil e suas verdades baseadas em evidências

A seguir, alguns dos mitos mais persistentes na alimentação infantil e o que a ciência realmente diz sobre eles:
- Mito 1: “O bebê precisa comer grandes quantidades para crescer forte.”
- Verdade: O importante é a qualidade nutricional e a diversidade dos alimentos oferecidos, e não a quantidade forçada. Bebês e crianças pequenas têm um apetite inconstante, que varia de acordo com o crescimento, o gasto energético e o estado de saúde. Forçar a criança a comer mais do que ela deseja pode gerar aversão a alimentos e problemas na relação com a comida. Respeitar os sinais de fome e saciedade da criança é crucial.
- Mito 2: “Crianças precisam de suco de fruta todos os dias.”
- Verdade: Não. Para crianças abaixo de 1 ano, sucos não são recomendados. Para crianças maiores, a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Pediatria desaconselham o consumo rotineiro de sucos, mesmo os naturais. O suco concentra o açúcar da fruta e remove as fibras, que são essenciais. É muito mais saudável oferecer a fruta in natura, que contém fibras, vitaminas e promove a mastigação. Água é a melhor bebida para a hidratação.
- Mito 3: “Mel é natural e bom para bebês e crianças pequenas.”
- Verdade: Mel é proibido para bebês menores de 1 ano de idade. Ele pode conter esporos da bactéria Clostridium botulinum, que causa o botulismo infantil, uma doença grave e potencialmente fatal, pois o sistema digestório do bebê ainda não é maduro o suficiente para combater a toxina. Após 1 ano, o mel é seguro, mas deve ser consumido com moderação devido ao alto teor de açúcar.
- Mito 4: “Para o bebê aceitar, é preciso colocar sal e açúcar na comida.”
- Verdade: Não adicionar sal e açúcar aos alimentos do bebê no primeiro ano de vida. O paladar do bebê está em formação e ele não precisa desses aditivos para aceitar os alimentos. O sal sobrecarrega os rins imaturos do bebê e pode levar a problemas de pressão arterial no futuro. O açúcar aumenta o risco de obesidade infantil, cáries e preferência por alimentos doces, prejudicando a aceitação de sabores naturais.
- Mito 5: “O leite de vaca integral é ideal para bebês a partir dos 6 meses.”
- Verdade: O leite de vaca integral não deve ser oferecido como bebida principal para bebês antes de 1 ano de idade. Ele possui um teor de proteína e minerais que pode sobrecarregar os rins do bebê, além de um baixo teor de ferro e outros nutrientes importantes, podendo causar anemia e deficiências. A partir de 1 ano, pode ser introduzido, mas o leite materno ou a fórmula infantil ainda são as melhores opções até essa idade.
Como fazer uma introdução alimentar segura e nutritiva?
A introdução alimentar do bebê, a partir dos 6 meses de idade, deve ser feita com foco na segurança e na oferta de nutrientes essenciais.
- Sinais de prontidão: Comece a oferecer alimentos sólidos quando o bebê demonstrar sinais de prontidão, como sentar-se com apoio, ter controle da cabeça e pescoço, e mostrar interesse por alimentos.
- Alimentos ricos em ferro: Priorize alimentos como carne (bem cozida e desfiada/moída), frango, gema de ovo, feijão e lentilha, pois as reservas de ferro do bebê começam a diminuir nessa fase.
- Variedade: Ofereça uma grande variedade de frutas, vegetais e cereais. Explore diferentes cores, sabores e texturas para estimular o paladar do bebê.
- Textura progressiva: Comece com papinhas lisas (purês) e, gradualmente, ofereça alimentos amassados, picados e, por fim, em pequenos pedaços, conforme o desenvolvimento da mastigação.
- Água: Ofereça água em um copo (não mamadeira) durante as refeições, especialmente com a introdução dos sólidos.
- Paciência e persistência: É comum o bebê recusar um alimento nas primeiras vezes. Ofereça-o novamente em outros dias e de diferentes formas. Pode levar muitas tentativas até que o bebê aceite.
- Ambiente positivo: Crie um ambiente tranquilo e divertido para as refeições, sem distrações (telas).
- Supervisão: Nunca deixe a criança sozinha comendo, devido ao risco de engasgos.
Qual a importância da alimentação familiar no desenvolvimento de hábitos?
A alimentação familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento de hábitos saudáveis nas crianças. Mais do que as regras e proibições, o exemplo e o ambiente à mesa são poderosos educadores.
- Exemplo dos pais: As crianças observam e imitam os hábitos alimentares dos pais e cuidadores. Se os adultos consomem uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais e alimentos integrais, a criança tenderá a fazer o mesmo.
- Refeições em família: Comer juntos à mesa, sem distrações como televisão ou celular, fortalece os laços familiares e permite que a criança observe e aprenda com os outros.
- Oferecer, não forçar: Crie um ambiente onde a criança se sinta à vontade para experimentar novos alimentos, sem pressão. Os pais oferecem, a criança decide o quanto e se come.
- Disponibilidade de alimentos saudáveis: Mantenha opções saudáveis sempre íveis em casa. Se o que está disponível é nutritivo, as escolhas da criança tendem a ser melhores.
- Envolvimento na cozinha: Permita que as crianças participem do preparo das refeições. Isso aumenta o interesse e a aceitação por novos alimentos.
A alimentação infantil é uma jornada de aprendizado e paciência. Desmistificar crenças populares e focar em orientações baseadas em evidências são os pilares para garantir um crescimento saudável e o desenvolvimento de um relacionamento positivo e duradouro com a comida. Em caso de dúvidas, a consulta com um pediatra ou nutricionista infantil é sempre o melhor caminho.