
Entre abril de 1984 e dezembro de 1986, um pequeno teatro sacudiu as estruturas culturais de Taguatinga e se tornou símbolo de resistência e liberdade artística no Distrito Federal. Nos últimos suspiros da ditadura militar, o Teatro Rolla Pedra surge como um espaço de criação e encontro de diferentes expressões culturais.
Esse recorte histórico é agora resgatado no livro "Teatro Rolla Pedra — Arte e utopia sob nuvens de chumbo", do poeta e professor Paulo Kauim. "O Rolla Pedra foi o lugar que a gente podia gritar, ser livre. Foi um cruzamento de tribos, e a gente vivia em total harmonia", relembra Kauim, com emoção.
Localizado em Taguatinga, o teatro surgiu no mesmo período em que Brasília se tornava o berço do rock nacional, com bandas como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. Essas bandas aram pelo Rolla Pedra e inspiraram outras tantas, além de alimentar um ambiente cultural que envolvia teatro, poesia e literatura.
Ali, jovens artistas podiam experimentar, ousar e dialogar com o público sem amarras, mesmo em um período de forte repressão. "É importante contar a nossa história. Imagina criar um teatro, naquela época, em Taguatinga, na periferia? O Rolla Pedra era um espaço de expressão. Era tudo o que a gente queria", afirma Kauim. A iniciativa de escrever o livro nasceu em uma conversa com amigos acadêmicos, quando o autor percebeu que a memória desse espaço precisava ser registrada e compartilhada com as novas gerações.
A publicação se divide entre entrevistas e ensaios, reunindo relatos de artistas e jornalistas que viveram o teatro. Entre os colaboradores estão José Carlos Vieira e Severino Francisco, do Correio Braziliense, que ajudam a manter as memórias afetivas do Rolla Pedra.
"No livro, eu falo que o teatro Rolla Pedra era o lugar que a gente ia encontrar a luz, a força, o sublime para resistir ao que estava lá fora, as trevas do regime militar. Eu sinto o Rolla Pedra como uma voz da nossa geração", observa o autor. O lançamento do livro acontece hoje, às 19h30, na Galeria Olho de Águia, na Praça da CNF, com uma mesa de debate que propõe refletir sobre arte e política.
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