Três perguntas para Vinicius Duval, médico patologista do DB Patologia.

Vinicius Duval, patologista  -  (crédito: Arquivo pessoal )
Vinicius Duval, patologista - (crédito: Arquivo pessoal )

Quais são as principais vias pelas quais os microplásticos acabam no organismo?

Estudos já identificaram essas partículas tanto nas vias mais evidentes — a aérea e a digestiva — quanto em outras que, à primeira vista, não associamos à absorção de substâncias nocivas, como a pele, o fígado, o cólon, os tecidos venosos e até mesmo o leite materno. Em outras palavras, sem percebermos, estamos expondo não apenas a nós mesmos, mas também aos nossos filhos, a esses contaminantes presentes em nosso cotidiano e disseminados por todo o planeta. Quando inalados ou ingeridos, os microplásticos se acumulam no organismo e podem desencadear processos inflamatórios, comprometer a eficiência do sistema imunológico e contribuir para o surgimento de doenças respiratórias, cardiovasculares e distúrbios hormonais – especialmente porque podem atuar como vetores de substâncias químicas perigosas, ampliando sua toxicidade.


O que se sabe até agora sobre a associação de microplásticos e risco de câncer? 

Pesquisas laboratoriais demonstraram que a exposição a micro e a nanopartículas pode induzir o desenvolvimento de câncer em diversos animais, como o peixe-zebra e camundongos — evidência preocupante, uma vez que esses poluentes estão presentes não apenas no ar e na água, o que já é alarmante, mas também nos frutos-do-mar que consumimos. Embora os mecanismos pelos quais essas partículas podem desencadear a carcinogênese ainda não estejam totalmente esclarecidos, o que se observa é que elas interagem com tecidos essenciais, como as células que revestem os ovários, ao alterar a resposta inflamatória e reduzir a capacidade das células de se defenderem contra o estresse oxidativo. Além disso, esses contaminantes podem absorver íons de metais tóxicos (como mercúrio, ferro, cobre e zinco) e mimetizar hormônios — tireoidianos, estrogênio e andrógenos —, interferindo no delicado equilíbrio hormonal e, consequentemente, na proliferação celular, fator determinante para o surgimento de tumores em tecidos especialmente sensíveis, como o da mama ou da próstata.

Os casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos estão aumentando. A poluição por microplástico deveria ser investigada entre as possíveis causas desse aumento?

Observa-se que os casos de câncer — como mama e tumores colorretais — em pessoas com menos de 50 anos estão aumentando. Essa mudança no perfil epidemiológico em espaço curto de tempo sugere que fatores ambientais, como a poluição por microplásticos, possam estar contribuindo para essa tendência. Quando alterações significativas ocorrem em doenças que afetam grupos etários específicos, torna-se fundamental ampliar nossa investigação para identificar todos os elementos envolvidos. Nesse contexto, a prevenção desponta como a estratégia mais viável, não apenas para evitar os estágios iniciais dessas doenças, mas também para minimizar seus impactos nos sistemas de saúde e na sociedade como um todo. (PO)

 

postado em 25/05/2025 06:00 / atualizado em 26/05/2025 14:37
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