
Gilberto Gil desembarca na cidade neste sábado (7/6) com o show Tempo Rei, na sua última turnê. Com 82 anos e 60 de carreira, Gil permanece intacto no apreço popular. O nome da turnê foi pinçado de uma canção de Gil, composta em 1984, em resposta à Oração ao tempo, de Caetano Veloso. Enquanto Caetano diz que o tempo a desfazendo o que conhece, Gil defende a ideia de que tudo deve permanecer igual, apenas transformado.
Em Brasília, fãs aguardam o cantor e compartilharam com o Correio a sintonia com Gil, como a música dele toca as famílias e as expectativas para o último show da carreira do artista na capital. Natália Magalhães, psicóloga de 28 anos, entrou em contato com a música de Gil por meio de sua mãe, Eloá França, economista e escritora de 65 anos.
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Eloá conheceu Gil na infância, no fim dos anos 1960, em festivais de música televisionados que o cantor participou. "As aparições de Gil eram impactantes, pela sua espontaneidade no palco, figurino, balanço, afinação, melodias e letras. Na época, a música Domingo no parque me encantou. Eu era muito jovem, não entendi a letra em sua complexidade, mas a poesia estava ali. Mais tarde, as músicas dele continuaram a me cativar, como Vamos fugir, A paz, Refavela e várias outras", conta Eloá.
A economista assistiu ao show de Gilberto Gil três vezes, em Brasília e no Rio de Janeiro, e o viu cantar em eventos sociais do Ministério da Cultura, quando o compositor era ministro. Dessa vez, Eloá e Natália estarão juntas no show e a mãe destaca que será uma emoção a mais apreciar Gil ao lado da filha. Será a primeira vez que vê um show do baiano. "Estou muito animada, porque considero um privilégio imenso viver na mesma época de alguém tão brilhante", destaca Natália.
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Maria Clara, professora de 28 anos, cresceu ouvindo os artistas da tropicália, também por influência de sua mãe. "Desses artistas que ouço por influência da minha mãe, sempre achei Gil o mais genial. A forma como ele defende a cultura, como fala sobre o amor, como apresenta seus processos, suas mudanças de vida", comenta. Além disso, destaca que Gil faz com que Maria se conecte com sua ancestralidade. "Me liga ao divino. É um sentimento compartilhado muito com minha irmã, mas também com minha mãe", reflete.
A professora assistiu Gil uma vez e, mesmo debaixo de chuva, não saiu da grade, mas valeu o esforço. "Foi ali que eu vi que ele está, de fato, no lugar do divino. É de uma leveza que se contrapõe ao mesmo tempo que complementa o que suas letras falam. Além de toda a simpatia do cantor e o charme de suas danças", brinca.
Maria destaca que a música Refazenda ocupa um lugar especial em sua vida, que foi se alterando com o decorrer dos anos. "Antes me conectava com essa música pelo amor à natureza, pela conexão com a Terra. Mais velha, entendi que ela falava também sobre construir novos rumos, refazer caminhos. É uma música com que me conecto de formas distintas, e, talvez por isso, está constantemente presente em meus processos. Está, inclusive, na epígrafe da minha dissertação", conta a professora.
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Sua irmã, Mariana Chagas, estudante de jornalismo, ressalta que a família sempre foi muito musical e a MPB sempre esteve presente no cotidiano. "Gil acompanhou todos os momentos importantes da minha vida. A memória afetiva que compartilho com minha mãe, irmã e as músicas dele permeiam até hoje", destaca a estudante. "Quero fazer parte de um momento tão único como as músicas de Gil fizeram parte de cada momento importante de minha vida, e fazer mais uma memória linda com a família", observa Mariana.
Maria Clara tem evitando ver vídeos da turnê para viver a experiência da forma mais surpreendente possível. "Estar nessa última turnê é ter o privilégio de ver um artista negro tão grande vivendo sua longevidade de forma ativa, um presente para quem entende tal grandiosidade", destaca a professora.
Elis Beze, estudante de direito, conheceu as músicas de Gil por meio dos pais, especialmente a mãe, que é muito ligada à MPB. Para ela, o mais impactante de Gil é a forma como ele canta. "A voz dele é muito suave, e isso me dá uma sensação de acolhimento. Meus pais também são fãs, mais que eu", conta Elis. Sua música favorita de Gilberto Gil é Se eu quiser falar com Deus. "Essa música me toca muito, porque ela descreve esse sentimento de precisar se entregar totalmente para conseguir alcançar algo maior, uma elevação", reflete a estudante.
A estudante irá ver Gil ao vivo pela primeira vez e salienta que o fato de ser a última turnê é muito marcante. "Poder estar ali, de corpo e alma, e ter essa troca com ele, vai ser uma experiência muito forte.Tenho certeza de que o show vai ser lindo, e estou superanimada pra ver se ele vai convidar alguém para uma participação especial", conta Elis.
Zanei Barcellos, professor da Universidade de Brasília (UnB) de 60 anos, começou a ouvir Gilberto Gil na adolescência e a troca de LPs entre os amigos fez o apreço pelo cantor crescer. "Nós nos reunimos na casa de amigos para escutar música e sempre aparecia o Gil, foi quando comecei a gostar", conta o professor. Zanei destaca que, na época, a busca pela liberdade era muito presente, ainda mais por ser um período de ditadura. "Ele era um cara que simbolizava essa luta contra a ditadura e as letras das músicas dele traduziam bastante esse desejo por liberdade. Gil era uma voz que cantava todos esses nossos desejos", reflete.
O professor universitário assistiu a vários shows do Gilberto Gil e, para ele, o primeiro foi o mais marcante. Na época, o estudante, que morava em Curitiba, curtiu a festa com os amigos e lembra de ter sido um momento emocionante, assim como espera que o último seja. "Considero esse último show como uma festa de um amigo, que convidou vários amigos e terei amigos lá também, mesmo pessoas que não conheço, já que estaremos todos na mesma vibração. Gilberto Gil é o elo principal de ligação", finaliza Zanei.
Participações especiais
Durante a turnê, é costume de Gil chamar convidados ao palco. Recentemente, no Rio de Janeiro, Chico Buarque fez participação especial cantando Cálice, cantada pela segunda vez desde o seu lançamento, em 1973, já que foi censurada pela ditadura. Flor Gil, neta do cantor, também já apareceu nos palcos e dividiu Refazenda com o avô. MC Hariel, do funk paulista, fez participação e trouxe o gênero na música A dança.
Eloá França, economista, gostaria de ver Gil cantando com sua filha Preta Gil ou ao lado de Caetano Veloso. Já Maria Clara, professora, deseja que Maria Gadu apareça, já que é muito fã dos dois e sua irmã Mariana gostaria que Chico Buarque estivesse presente na capital. Elis, estudante de direito, gostou muito da ideia de trazer um artistas mais contemporâneo, como aconteceu com Hariel e Veigh foi um nome que a estudante achou interessante pensar ao lado de Gil.