
Gilberto Gil se despediu de Brasília na noite deste sábado (7/6). Com 30 minutos de atraso, o cantor baiano subiu aos palcos do Mané Garrincha para se apresentar pela última vez na capital federal, com a turnê Tempo Rei.
Após uma breve queima de fogos, Gil deu início aos trabalhos com o famoso “pápápá” de Palco, animando o público. O cantor também botou os brasilienses para dançar ao sons de faixas como Expresso 222, Back in Bahia e Eu só quero um amor, regido pelo sanfonista Mestrinho.
Acompanhado dos filhos e netos, Gil parecia em casa. A vontade e animado o cantor conduziu o público de Brasília que parecia um eco da voz e um atestado do legado que o artista deixa. Se essa era última vez, Gilberto Gil queria que cheirasse a talco como se fosse a primeira.
Na Brasília que ele já tocou em teatros, auditórios, ginásios, festivais e arenas, Gilberto Gil teve o ato final gigante. Com o Mané Garrincha lotado, com as pessoas tentando estar mais perto de Gil até nas arquibancadas, o baiano ganhou o estádio cheio que merecia. Há uma beleza ímpar em assistir o artista se apresentando em toda magnitude.
Um dos pontos altos da apresentação foi Cálice, performance precedida por um depoimento de Chico Buarque sobre o período da ditadura no Brasil. O público reagiu ao momento com gritos de “sem anistia”.
Após Refazenda, Refavela e a história de como se viu em meio a ícones da diáspora negra africana, Gil emendou um dos momentos de maior sinergia entre público e palco. A música Não chores mais, versão de No woman no cry de Bob Marley & The Wailers, carregou todo o impacto do canto de que tudo vai dar certo, ou melhor, dar pé.
A participação especial do show ficou por conta de Alexandre Carlo, vocalista da banda brasiliense Natiruts. Juntos, os músicos cantaram a música Filho da Terra.
Em todas as apresentações da turnê, Gil tem trazido um convidado para os palcos. Nomes como Chico Buarque, Nando Reis, Djavan e Marisa Monte são alguns dos artistas que participaram dos últimos shows.
O artista voltou a emocionar o público em um momento mais intimista, com músicas tocadas majoritariamente no formato voz e violão. Faixas como Se eu puder falar com Deus, Drão e Estrela deixaram o músico mais perto do público e tocaram verdadeiramente o coração de quem estava no evento. A resposta foram fortes gritos de: “Gil, eu te amo”. A réplica foi instantânea. “É recíproco”, disse o cantor que ainda teve espaço para filosofar: “O amor é mais difícil que a morte”.
Antes de terminar, Gil se soltou uma última vez. Ao som de algumas das mais famosas composições da carreira, o artista dançou como se não tivesse tocando há mais de duas horas. O público fez jus à energia do show e também não ficou parado nem quando a atração principal da noite saiu do palco para o bis. O fim teve direito a forró, axé e, é claro, aquele abraço.
O sentimento agridoce de uma despedida teve um sabor muito diferente na noite deste sábado. Gilberto Gil não parecia estar se despedindo da capital que o abraçou e ministro. A sensação é de que ele estava aproveitando o aqui e agora para ficar marcado na eternidade. Os sucessos, a família, os amigos e os fãs todos exaltavam essa figura única que pra sempre será presente no imaginário brasileiro. Nos palcos ou longe deles, Gilberto Gil é pra sempre no tempo rei que narra.
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Pedro Ibarra
RepórterJornalista e desenrolado com as palavras. Cobre cultura com foco em música, streaming e cinema. Também assina as colunas Rolê, focada em música local, no Divirta-se Mais, e Próximo Capítulo, concentrada em televisão e streaming, na Revista do Correio