/* 1rem = 16px, 0.625rem = 10px, 0.5rem = 8px, 0.25rem = 4px, 0.125rem = 2px, 0.0625rem = 1px */ :root { --cor: #073267; --fonte: "Roboto", sans-serif; --menu: 12rem; /* Tamanho Menu */ } @media screen and (min-width: 600px){ .site{ width: 50%; margin-left: 25%; } .logo{ width: 50%; } .hamburger{ display: none; } } @media screen and (max-width: 600px){ .logo{ width: 100%; } } p { text-align: justify; } .logo { display: flex; position: absolute; /* Tem logo que fica melhor sem position absolute*/ align-items: center; justify-content: center; } .hamburger { font-size: 1.5rem; padding-left: 0.5rem; z-index: 2; } .sidebar { padding: 10px; margin: 0; z-index: 2; } .sidebar>li { list-style: none; margin-bottom: 10px; z-index: 2; } .sidebar a { text-decoration: none; color: #fff; z-index: 2; } .close-sidebar { font-size: 1.625em; padding-left: 5px; height: 2rem; z-index: 3; padding-top: 2px; } #sidebar1 { width: var(--menu); background: var(--cor); color: #fff; } #sidebar1 amp-img { width: var(--menu); height: 2rem; position: absolute; top: 5px; z-index: -1; } .fonte { font-family: var(--fonte); } .header { display: flex; background: var(--cor); color: #fff; align-items: center; height: 3.4rem; } .noticia { margin: 0.5rem; } .assunto { text-decoration: none; color: var(--cor); text-transform: uppercase; font-size: 1rem; font-weight: 800; display: block; } .titulo { color: #333; } .autor { color: var(--cor); font-weight: 600; } .chamada { color: #333; font-weight: 600; font-size: 1.2rem; line-height: 1.3; } .texto { line-height: 1.3; } .galeria {} .retranca {} .share { display: flex; justify-content: space-around; padding-bottom: 0.625rem; padding-top: 0.625rem; } .tags { display: flex; flex-wrap: wrap; flex-direction: row; text-decoration: none; } .tags ul { display: flex; flex-wrap: wrap; list-style-type: disc; margin-block-start: 0.5rem; margin-block-end: 0.5rem; margin-inline-start: 0px; margin-inline-end: 0px; padding-inline-start: 0px; flex-direction: row; } .tags ul li { display: flex; flex-wrap: wrap; flex-direction: row; padding-inline-end: 2px; padding-bottom: 3px; padding-top: 3px; } .tags ul li a { color: var(--cor); text-decoration: none; } .tags ul li a:visited { color: var(--cor); } .citacao {} /* Botões de compartilhamento arrendodados com a cor padrão do site */ amp-social-share.rounded { border-radius: 50%; background-size: 60%; color: #fff; background-color: var(--cor); } --> { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": "/euestudante/trabalho-e-formacao/2024/07/6892112-saiba-quem-e-stelio-marras-professor-que-doou-rs-25-mi-a-usp.html", "name": "Saiba quem é o professor que doou R$ 25 milhões ao Fundo Patrimonial da USP", "headline": "Saiba quem é o professor que doou R$ 25 milhões ao Fundo Patrimonial da USP", "alternateName": "Gente que inspira", "alternativeHeadline": "Gente que inspira", "datePublished": "2024-07-07-0306:00:00-10800", "articleBody": "<p class="texto">Em meio a um contexto de desigualdades socioecon&ocirc;micas, um ato de humanidade marcou a educa&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica e o futuro profissional de universit&aacute;rios do pa&iacute;s. A doa&ccedil;&atilde;o de um im&oacute;vel avaliado em R$ 25 milh&otilde;es chega ao Fundo Patrimonial da Universidade de S&atilde;o Paulo (USP), e com uma condi&ccedil;&atilde;o: ser destinada a milhares de estudantes em situa&ccedil;&atilde;o de vulnerabilidade e com a perman&ecirc;ncia acad&ecirc;mica amea&ccedil;ada. O doador foi o professor e antrop&oacute;logo Stelio Marras, 54 anos, que viu, no ato, uma forma de fazer a diferen&ccedil;a no mundo e de honrar sua fam&iacute;lia, infelizmente, rec&eacute;m-falecida.</p> <p class="texto">Registrado em testamento, o aporte &eacute; o maior recebido pelo fundo, que foi criado em 2021 para financiar e fomentar as atividades da USP &mdash; respons&aacute;vel por cerca de 20% da pesquisa acad&ecirc;mica produzida no Brasil e a 16&ordf; institui&ccedil;&atilde;o de ensino que mais produz pesquisa no mundo. O docente decidiu tornar o ato p&uacute;blico para voltar as aten&ccedil;&otilde;es &agrave; situa&ccedil;&atilde;o estudantil e incentivar outros, sobretudo, os mais ricos, a contribu&iacute;rem para o ensino superior nacional, lan&ccedil;ando um caminho para a igualdade.<br /></p> <h3>Heran&ccedil;a</h3> <p class="texto">Em entrevista ao <strong>Correio</strong>, Stelio diz que, como especialista social e diante da cria&ccedil;&atilde;o familiar que teve, n&atilde;o poderia ter tomado uma decis&atilde;o diferente. "Viver como um milion&aacute;rio &eacute; dar as costas para a sociedade e para o ambiente. E Deus me livre viver numa ilha milion&aacute;ria, cercada por um mar de pobreza e mis&eacute;ria. N&atilde;o caberia, na minha cabe&ccedil;a, na minha alma, fazer algo diferente. O mundo &eacute; muito desigual e o Brasil, como sabemos, &eacute; campe&atilde;o nesse quesito."</p> <p class="texto">De origem humilde, ele afirma que ningu&eacute;m da sua fam&iacute;lia foi rico e que a heran&ccedil;a que recebeu, um pr&eacute;dio residencial com cinema localizado em Minas Gerais, foi constru&iacute;da com muito trabalho. Seu pai, Edoardo Luciano, nasceu no in&iacute;cio do s&eacute;culo 20 em Turim, norte da It&aacute;lia, e saiu pelo mundo retratando os chamados "elegantes da esta&ccedil;&atilde;o". "Quem n&atilde;o viu o filme Titanic, n&eacute;. E aquele personagem do (Leonardo) DiCaprio &eacute; exatamente meu pai. Muito pobre, ele pintava as pessoas e ganhava uns trocados. &Agrave;s vezes, ele tinha que escolher comer ou pegar a condu&ccedil;&atilde;o. Ent&atilde;o, comprava banana e ia andando, jogando a casca para tr&aacute;s. &Eacute; a hist&oacute;ria que ficou na fam&iacute;lia", lembra.</p> <ul> <li><a href="/euestudante/ensino-superior/2024/02/6810238-ex-professora-doa-bilhoes-a-faculdade-e-aulas-serao-gratuitas-para-sempre.html">Ex-professora doa bilh&otilde;es a faculdade e aulas ser&atilde;o gratuitas "para sempre"</a></li> <li><a href="/euestudante/ensino-superior/2024/07/6891811-professor-mineiro-doa-predio-de-rs-25-milhoes-para-a-usp.html">Professor mineiro doa pr&eacute;dio de R$ 25 milh&otilde;es para a USP</a></li> <li><a href="/mundo/2024/02/6810154-faculdade-dos-eua-recebe-doacao-historica-de-uss-1-bi.html">Faculdade dos EUA recebe doa&ccedil;&atilde;o hist&oacute;rica de US$ 1 bi</a></li> </ul> <p class="texto">No fim dos anos 1930, o &uacute;ltimo destino do retratista foi Po&ccedil;os de Caldas, importante esta&ccedil;&atilde;o balne&aacute;ria de Minas Gerais, onde decidiu fincar ra&iacute;zes. "Com as guerras, se ele voltasse (&agrave; It&aacute;lia), teria de servir ao ex&eacute;rcito de Mussolini e dar todo o dinheiro que eventualmente tivesse", explica. Edoardo logo conheceu a m&atilde;e de Stelio e, para sustentar os filhos, na d&eacute;cada de 70, construiu o cinema UltraVis&atilde;o, que foi doado &agrave; USP.</p> <p class="texto">Quando o pai morreu, em 1981, Stelio tinha 11 anos de idade. Tempos depois, o irm&atilde;o ca&ccedil;ula, Leandro Tullio, era quem istrava o cinema, at&eacute; 2022, quando faleceu inesperadamente por complica&ccedil;&otilde;es de sa&uacute;de. Sua m&atilde;e, Ruth S&atilde;o Juliano, ou a vida dedicando-se ao cuidado da fam&iacute;lia. "Uma mulher da terra, mineira, que me deu o principal da vida, o que eu chamaria de &eacute;tica da mod&eacute;stia, da modera&ccedil;&atilde;o, de uma vida simples e frugal", pontua Stelio sobre a m&atilde;e, que faleceu em fevereiro, aos 80 anos.</p> <p class="texto">"Eu sou um ex-milion&aacute;rio sem nunca ter sido. Ainda estou em luto, muito impactado. Eu n&atilde;o assumiria tocar esse cinema por conta da doc&ecirc;ncia, pelo regime de dedica&ccedil;&atilde;o integral, mas tamb&eacute;m por uma quest&atilde;o sentimental, porque, sem eles l&aacute;, n&atilde;o faz sentido. Como se diz hoje, n&eacute;? Meu pai conseguiu fazer do lim&atilde;o uma limonada, e &eacute; o que estou tentando fazer tamb&eacute;m."</p> <p class="texto"> <div class="galeria-cb"> <amp-carousel class="carousel1" layout="fixed-height" height="300" type="slides"> <div class="slide"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/07/05/475x750/1_whatsapp_image_2024_07_05_at_00_04_41-38738227.jpeg?20240705202640" class="contain" layout="fill" alt="Irmão caçula, Leandro Tullio, operando máquina de cinema pré-digital" width="685" height="470"></amp-img> <figcaption class="fonte"> Arquivo pessoal - <b></b> </figcaption> </div> <div class="slide"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/07/05/475x750/1_whatsapp_image_2024_07_05_at_00_08_46-38711691.jpeg?20240705002103" class="contain" layout="fill" alt="Pai de Stelio, artista" width="685" height="470"></amp-img> <figcaption class="fonte"> Arquivo pessoal - <b></b> </figcaption> </div> <div class="slide"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/07/05/475x750/1_whatsapp_image_2024_07_05_at_00_09_08-38711704.jpeg?20240705002103" class="contain" layout="fill" alt="Cinema UltraVisão, em Minas Gerais" width="685" height="470"></amp-img> <figcaption class="fonte"> Arquivo pessoal - <b></b> </figcaption> </div> <amp-embed width=100 height=100 type=taboola layout=responsive data-publisher='diariosassociados-correiobraziliense' data-mode='thumbnails-a-photogallery' data-placement='taboola-widget-0-photo-gallery AMP' data-target_type='mix' data-article='auto' data-url=''> </amp-embed> </amp-carousel> </div></p> <h3>Carreira</h3> <p class="texto">Primeiro da fam&iacute;lia a completar o segundo grau, Stelio &eacute; docente e pesquisador no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) h&aacute; 10 anos. No in&iacute;cio da d&eacute;cada de 90, ele estava imerso no universo do cinema e fazia aulas de teatro, mas decidiu sair de Po&ccedil;os de Caldas para prestar vestibular em S&atilde;o Paulo e ingressou no curso de ci&ecirc;ncias sociais na USP, onde consolidou sua forma&ccedil;&atilde;o acad&ecirc;mica.</p> <p class="texto">Ap&oacute;s a gradua&ccedil;&atilde;o, emendou um mestrado na &aacute;rea de antropologia, no qual foi destaque com a tese A prop&oacute;sito de &aacute;guas virtuosas: forma&ccedil;&atilde;o e ocorr&ecirc;ncias de uma esta&ccedil;&atilde;o balne&aacute;ria no Brasil, premiada, em 2003, como a melhor disserta&ccedil;&atilde;o de mestrado do ano pela Associa&ccedil;&atilde;o Nacional de P&oacute;s-Gradua&ccedil;&atilde;o e Pesquisa em Ci&ecirc;ncias Sociais (Anpocs). T&atilde;o importante quanto o pr&ecirc;mio, ele cita a cria&ccedil;&atilde;o da revista interdisciplinar Sexta-Feira - Antropologias, Artes e Humanidades, da qual foi coeditor.</p> <p class="texto">"Esse pr&ecirc;mio foi muito importante, mas n&atilde;o menos que o grupo da revista. Em torno dela, n&atilde;o s&oacute; selamos amizades, como conspiramos juntos antropologias e outras coisas. Com essa publica&ccedil;&atilde;o, n&oacute;s conseguimos fazer um tr&acirc;nsito entre a produ&ccedil;&atilde;o acad&ecirc;mica e o interesse pela divulga&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica. Uma esp&eacute;cie de ponte que teve um papel de inova&ccedil;&atilde;o editorial e de difus&atilde;o cient&iacute;fica bastante atraente na &eacute;poca", ressalta Stelio.</p> <p class="texto">Da faculdade para a vida, o grupo de amigos continua unido. "Minha fam&iacute;lia &eacute; muito pequena, ent&atilde;o acho que o maior acolhimento foi mesmo dos meus amigos e amigas queridos que, desde a gradua&ccedil;&atilde;o, t&ecirc;m sido a minha turma, e eu devo muito a eles por isso." Al&eacute;m deles, Stelio destaca Laila Monique de Melo, 31, que entrou como funcion&aacute;ria do cinema h&aacute; muitos anos e agora trabalha como "secret&aacute;ria irm&atilde;" do pesquisador. "Ela cuidou do meu irm&atilde;o, da minha m&atilde;e, hoje me acompanha e &eacute; uma pessoa extraordin&aacute;ria, tamb&eacute;m uma grande heran&ccedil;a que recebi do meu irm&atilde;o."</p> <p class="texto"> <div class="galeria-cb"> <amp-carousel class="carousel1" layout="fixed-height" height="300" type="slides"> <div class="slide"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/07/05/675x450/1_whatsapp_image_2024_07_05_at_19_39_16-38738240.jpeg?20240705202643" class="contain" layout="fill" alt="Fachada do prédio, em Poços de Caldas, com o cinema UltraVisão " width="685" height="470"></amp-img> <figcaption class="fonte"> Arquivo pessoal - <b></b> </figcaption> </div> <div class="slide"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/07/05/675x450/1_whatsapp_image_2024_07_03_at_22_22_45-38711661.jpeg?20240705002042" class="contain" layout="fill" alt="Amigos que participaram da revista, há quase 30 anos, e hoje são a família de Stelio" width="685" height="470"></amp-img> <figcaption class="fonte"> Fotos: Arquivo pessoal - <b></b> </figcaption> </div> <div class="slide"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/07/05/675x450/1_whatsapp_image_2024_07_05_at_00_10_10-38711676.jpeg?20240705002046" class="contain" layout="fill" alt="Laila Monique, 31, e a mãe do pesquisador, Ruth São Juliano, 80" width="685" height="470"></amp-img> <figcaption class="fonte"> Arquivo pessoal - <b></b> </figcaption> </div> <amp-embed width=100 height=100 type=taboola layout=responsive data-publisher='diariosassociados-correiobraziliense' data-mode='thumbnails-a-photogallery' data-placement='taboola-widget-0-photo-gallery AMP' data-target_type='mix' data-article='auto' data-url=''> </amp-embed> </amp-carousel> </div></p> <h3>D&iacute;vida</h3> <p class="texto">Apesar de estar feliz com a a&ccedil;&atilde;o solid&aacute;ria, ele revela que acabou fazendo uma d&iacute;vida. "Fiquei endividado com irm&atilde;os para que esse pr&eacute;dio que eu doei ficasse apenas no meu nome. S&atilde;o custos advocat&iacute;cios com invent&aacute;rios, impostos, regulariza&ccedil;&atilde;o, manuten&ccedil;&atilde;o etc. Eu acho que, aos poucos, vou conseguir quitar essas d&iacute;vidas nos pr&oacute;ximos anos, inclusive, com ajuda do meu sal&aacute;rio de professor", pondera. Por outro lado, n&atilde;o se arrepende da decis&atilde;o. "O importante &eacute; que, se eu morrer amanh&atilde;, haver&aacute; bolsas de perman&ecirc;ncia estudantil do subfundo USP Diversa para cotistas sociais e raciais, ou seja, grupos social e economicamente minorit&aacute;rios, vulner&aacute;veis."</p> <p class="texto">Ele diz que a cara, a cor e a agenda da universidade p&uacute;blica, com as cotas, avan&ccedil;aram nos &uacute;ltimos anos, mas ainda h&aacute; desafios. "O problema &eacute; que eles entram e a evas&atilde;o &eacute; enorme, eles n&atilde;o t&ecirc;m condi&ccedil;&atilde;o de ficar. &Eacute; preciso corrigir isso." E reflete sobre a desigualdade no pa&iacute;s: "Eu adoro viver e quero viver, mas estou convencido de que dar as costas &agrave; mortalidade &eacute; um modo bastante perverso de perpetuar concentra&ccedil;&atilde;o de riqueza, bens, patrim&ocirc;nio. Como se fosse uma esp&eacute;cie de negacionismo da vida e da sociedade."</p> <h3>Repercuss&atilde;o</h3> <p class="texto">Desde que o irm&atilde;o Leandro faleceu, Stelio&nbsp;comentava sobre a doa&ccedil;&atilde;o, mas ouviu opini&otilde;es diferentes sobre o que fazer com a heran&ccedil;a. "Teve gente dizendo 'para com isso rapaz, pe&ccedil;a demiss&atilde;o e v&aacute; viver na Europa, andando o mundo', uma coisa horr&iacute;vel", conta. Ele tamb&eacute;m se percebeu incomodado com coment&aacute;rios na internet. "As pessoas se mostram muito surpresas e mesmo perturbadas com o fato de eu renunciar ao desfrute de uma fortuna. &Eacute; como se a filantropia fosse um absurdo, e mais ainda porque, no meu caso, trata-se de uma doa&ccedil;&atilde;o que fa&ccedil;o n&atilde;o no final da minha vida."</p> <p class="texto">O antrop&oacute;logo observa ainda uma cultura de doa&ccedil;&otilde;es an&ocirc;nimas no pa&iacute;s e defende que, de alguma maneira, era preciso romper isso com "algu&eacute;m dando as caras". "O que me animou a sofrer essa exposi&ccedil;&atilde;o, que n&atilde;o &eacute; nada confort&aacute;vel para mim, &eacute; estimular outras pessoas a atos de solidariedade como esse. Eu noto que est&aacute; havendo mais doa&ccedil;&otilde;es e mais interesse de entidades em divulgar algo que ainda &eacute; pouco praticado", relata.</p> <p class="texto">Ao decidir tornar sua doa&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica, Stelio tamb&eacute;m recebeu depoimentos emocionantes, como o da estudante Cristiane Aparecida Silveira Monteiro, que mostrou que a&ccedil;&otilde;es como a dele mudaram a vida dela. "Eu, filha de um cortador de cana e de uma empregada dom&eacute;stica, iria desistir do curso se n&atilde;o fosse a Bolsa Eduardo Panades. Conclui o curso de enfermagem em 2003, fiz mestrado e doutorado. Trabalhei em sua terra natal (Po&ccedil;os de Caldas) por 12 anos e hoje sou professora na Universidade Federal de Alfenas. N&atilde;o me tornei uma refer&ecirc;ncia de vida nem de pesquisa nem de nada, mas consegui dar aos meus pais uma vida digna e com um pouco de conforto", relata. "Nada disso teria sido poss&iacute;vel se n&atilde;o fosse o o e a perman&ecirc;ncia viabilizados pela bolsa. Imagino quantas 'Cristianes' ter&atilde;o as suas vidas transformadas pelo seu gesto...", escreveu Cristiane.<br /> <div class="galeria-cb"> <amp-carousel class="carousel1" layout="fixed-height" height="300" type="slides"> <div class="slide"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/07/05/whatsapp_image_2024_07_05_at_22_23_12-38739552.jpeg?20240705222857" class="contain" layout="fill" alt="Cristiane Aparecida Silveira Monteiro conseguiu se graduar em enfermagem graças a doações como a de Stelio" width="685" height="470"></amp-img> <figcaption class="fonte"> Arquivo pessoal - <b></b> </figcaption> </div> <div class="slide"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/07/05/whatsapp_image_2024_07_05_at_22_22_54-38739568.jpeg?20240705222859" class="contain" layout="fill" alt="Cristiane Aparecida com os pais em sua colação, em 2003, possibilitada pela Bolsa Eduardo Panades" width="685" height="470"></amp-img> <figcaption class="fonte"> Arquivo pessoal - <b></b> </figcaption> </div> </amp-carousel> </div></p> <p class="texto"><div class="read-more"> <h4>Saiba Mais</h4> <ul> <li> <a href="/euestudante/ensino-superior/2024/07/6891811-professor-mineiro-doa-predio-de-rs-25-milhoes-para-a-usp.html"> <amp-img src="https://midias.em.com.br/_midias/jpg/2024/07/04/ege03072024lf002-38701928.jpeg?20240704171936" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Ensino superior</strong> <span>Professor mineiro doa prédio de R$ 25 milhões para a USP</span> </div> </a> </li> <li> <a href="/euestudante/concursos/2024/07/6891783-concurso-para-o-ibama-e-autorizado-pelo-governo.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2023/12/12/ibama_operacao-33193640.jpg?20240624113525" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Concursos</strong> <span>Concurso para o Ibama é autorizado pelo governo</span> </div> </a> </li> <li> <a href="/euestudante/concursos/2024/07/6891752-prefeitura-de-santo-amaro-sc-abre-vaga-para-engenheiro-civil.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2023/09/13/unseen_studio_s9cc2skysjm_unsplash-29445572.jpg?20240519074351" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Concursos</strong> <span>Prefeitura de Santo Amaro (SC) abre vaga para engenheiro civil</span> </div> </a> </li> </ul> </div></p>", "isAccessibleForFree": true, "image": { "url": "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/07/05/675x450/1_whatsapp_image_2024_07_05_at_00_13_56-38711648.jpeg?20240705002042?20240705002042", "width": 820, "@type": "ImageObject", "height": 490 }, "author": [ { "@type": "Person", "name": "Marina Rodrigues" } ], "publisher": { "logo": { "url": "https://image.staticox.com/?url=http%3A%2F%2Fimgs2.correiobraziliense.com.br%2Famp%2Flogo_cb_json.png", "@type": "ImageObject" }, "name": "Correio Braziliense", "@type": "Organization" } } 6m4f20

Eu, Estudante 52t2f

Gente que inspira

Saiba quem é o professor que doou R$ 25 milhões ao Fundo Patrimonial da USP 103l32

Stelio Marras perdeu a família recentemente e recebeu, como herança, um prédio com cinema criado pelo pai nos anos 70. O imóvel, avaliado em R$ 25 milhões, foi destinado em testamento ao subfundo USP Diversa para ajudar estudantes de baixa renda 74k5m

Em meio a um contexto de desigualdades socioeconômicas, um ato de humanidade marcou a educação pública e o futuro profissional de universitários do país. A doação de um imóvel avaliado em R$ 25 milhões chega ao Fundo Patrimonial da Universidade de São Paulo (USP), e com uma condição: ser destinada a milhares de estudantes em situação de vulnerabilidade e com a permanência acadêmica ameaçada. O doador foi o professor e antropólogo Stelio Marras, 54 anos, que viu, no ato, uma forma de fazer a diferença no mundo e de honrar sua família, infelizmente, recém-falecida.

Registrado em testamento, o aporte é o maior recebido pelo fundo, que foi criado em 2021 para financiar e fomentar as atividades da USP — responsável por cerca de 20% da pesquisa acadêmica produzida no Brasil e a 16ª instituição de ensino que mais produz pesquisa no mundo. O docente decidiu tornar o ato público para voltar as atenções à situação estudantil e incentivar outros, sobretudo, os mais ricos, a contribuírem para o ensino superior nacional, lançando um caminho para a igualdade.

Herança 1n3h

Em entrevista ao Correio, Stelio diz que, como especialista social e diante da criação familiar que teve, não poderia ter tomado uma decisão diferente. "Viver como um milionário é dar as costas para a sociedade e para o ambiente. E Deus me livre viver numa ilha milionária, cercada por um mar de pobreza e miséria. Não caberia, na minha cabeça, na minha alma, fazer algo diferente. O mundo é muito desigual e o Brasil, como sabemos, é campeão nesse quesito."

De origem humilde, ele afirma que ninguém da sua família foi rico e que a herança que recebeu, um prédio residencial com cinema localizado em Minas Gerais, foi construída com muito trabalho. Seu pai, Edoardo Luciano, nasceu no início do século 20 em Turim, norte da Itália, e saiu pelo mundo retratando os chamados "elegantes da estação". "Quem não viu o filme Titanic, né. E aquele personagem do (Leonardo) DiCaprio é exatamente meu pai. Muito pobre, ele pintava as pessoas e ganhava uns trocados. Às vezes, ele tinha que escolher comer ou pegar a condução. Então, comprava banana e ia andando, jogando a casca para trás. É a história que ficou na família", lembra.

No fim dos anos 1930, o último destino do retratista foi Poços de Caldas, importante estação balneária de Minas Gerais, onde decidiu fincar raízes. "Com as guerras, se ele voltasse (à Itália), teria de servir ao exército de Mussolini e dar todo o dinheiro que eventualmente tivesse", explica. Edoardo logo conheceu a mãe de Stelio e, para sustentar os filhos, na década de 70, construiu o cinema UltraVisão, que foi doado à USP.

Quando o pai morreu, em 1981, Stelio tinha 11 anos de idade. Tempos depois, o irmão caçula, Leandro Tullio, era quem istrava o cinema, até 2022, quando faleceu inesperadamente por complicações de saúde. Sua mãe, Ruth São Juliano, ou a vida dedicando-se ao cuidado da família. "Uma mulher da terra, mineira, que me deu o principal da vida, o que eu chamaria de ética da modéstia, da moderação, de uma vida simples e frugal", pontua Stelio sobre a mãe, que faleceu em fevereiro, aos 80 anos.

"Eu sou um ex-milionário sem nunca ter sido. Ainda estou em luto, muito impactado. Eu não assumiria tocar esse cinema por conta da docência, pelo regime de dedicação integral, mas também por uma questão sentimental, porque, sem eles lá, não faz sentido. Como se diz hoje, né? Meu pai conseguiu fazer do limão uma limonada, e é o que estou tentando fazer também."

Arquivo pessoal -
Arquivo pessoal -
Arquivo pessoal -

Carreira 5l1mo

Primeiro da família a completar o segundo grau, Stelio é docente e pesquisador no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) há 10 anos. No início da década de 90, ele estava imerso no universo do cinema e fazia aulas de teatro, mas decidiu sair de Poços de Caldas para prestar vestibular em São Paulo e ingressou no curso de ciências sociais na USP, onde consolidou sua formação acadêmica.

Após a graduação, emendou um mestrado na área de antropologia, no qual foi destaque com a tese A propósito de águas virtuosas: formação e ocorrências de uma estação balneária no Brasil, premiada, em 2003, como a melhor dissertação de mestrado do ano pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). Tão importante quanto o prêmio, ele cita a criação da revista interdisciplinar Sexta-Feira - Antropologias, Artes e Humanidades, da qual foi coeditor.

"Esse prêmio foi muito importante, mas não menos que o grupo da revista. Em torno dela, não só selamos amizades, como conspiramos juntos antropologias e outras coisas. Com essa publicação, nós conseguimos fazer um trânsito entre a produção acadêmica e o interesse pela divulgação científica. Uma espécie de ponte que teve um papel de inovação editorial e de difusão científica bastante atraente na época", ressalta Stelio.

Da faculdade para a vida, o grupo de amigos continua unido. "Minha família é muito pequena, então acho que o maior acolhimento foi mesmo dos meus amigos e amigas queridos que, desde a graduação, têm sido a minha turma, e eu devo muito a eles por isso." Além deles, Stelio destaca Laila Monique de Melo, 31, que entrou como funcionária do cinema há muitos anos e agora trabalha como "secretária irmã" do pesquisador. "Ela cuidou do meu irmão, da minha mãe, hoje me acompanha e é uma pessoa extraordinária, também uma grande herança que recebi do meu irmão."

Arquivo pessoal -
Fotos: Arquivo pessoal -
Arquivo pessoal -

Dívida 2o2m5b

Apesar de estar feliz com a ação solidária, ele revela que acabou fazendo uma dívida. "Fiquei endividado com irmãos para que esse prédio que eu doei ficasse apenas no meu nome. São custos advocatícios com inventários, impostos, regularização, manutenção etc. Eu acho que, aos poucos, vou conseguir quitar essas dívidas nos próximos anos, inclusive, com ajuda do meu salário de professor", pondera. Por outro lado, não se arrepende da decisão. "O importante é que, se eu morrer amanhã, haverá bolsas de permanência estudantil do subfundo USP Diversa para cotistas sociais e raciais, ou seja, grupos social e economicamente minoritários, vulneráveis."

Ele diz que a cara, a cor e a agenda da universidade pública, com as cotas, avançaram nos últimos anos, mas ainda há desafios. "O problema é que eles entram e a evasão é enorme, eles não têm condição de ficar. É preciso corrigir isso." E reflete sobre a desigualdade no país: "Eu adoro viver e quero viver, mas estou convencido de que dar as costas à mortalidade é um modo bastante perverso de perpetuar concentração de riqueza, bens, patrimônio. Como se fosse uma espécie de negacionismo da vida e da sociedade."

Repercussão 42s25

Desde que o irmão Leandro faleceu, Stelio comentava sobre a doação, mas ouviu opiniões diferentes sobre o que fazer com a herança. "Teve gente dizendo 'para com isso rapaz, peça demissão e vá viver na Europa, andando o mundo', uma coisa horrível", conta. Ele também se percebeu incomodado com comentários na internet. "As pessoas se mostram muito surpresas e mesmo perturbadas com o fato de eu renunciar ao desfrute de uma fortuna. É como se a filantropia fosse um absurdo, e mais ainda porque, no meu caso, trata-se de uma doação que faço não no final da minha vida."

O antropólogo observa ainda uma cultura de doações anônimas no país e defende que, de alguma maneira, era preciso romper isso com "alguém dando as caras". "O que me animou a sofrer essa exposição, que não é nada confortável para mim, é estimular outras pessoas a atos de solidariedade como esse. Eu noto que está havendo mais doações e mais interesse de entidades em divulgar algo que ainda é pouco praticado", relata.

Ao decidir tornar sua doação pública, Stelio também recebeu depoimentos emocionantes, como o da estudante Cristiane Aparecida Silveira Monteiro, que mostrou que ações como a dele mudaram a vida dela. "Eu, filha de um cortador de cana e de uma empregada doméstica, iria desistir do curso se não fosse a Bolsa Eduardo Panades. Conclui o curso de enfermagem em 2003, fiz mestrado e doutorado. Trabalhei em sua terra natal (Poços de Caldas) por 12 anos e hoje sou professora na Universidade Federal de Alfenas. Não me tornei uma referência de vida nem de pesquisa nem de nada, mas consegui dar aos meus pais uma vida digna e com um pouco de conforto", relata. "Nada disso teria sido possível se não fosse o o e a permanência viabilizados pela bolsa. Imagino quantas 'Cristianes' terão as suas vidas transformadas pelo seu gesto...", escreveu Cristiane.

Arquivo pessoal -
Arquivo pessoal -