
Na última semana, dois acontecimentos marcaram o universo científico no Brasil. Divulgado na segunda-feira ada, levantamento internacional sobre instituições de ensino superior revelou um quadro preocupante. Segundo a edição 2025 do ranking do Center for World University Rankings (CWUR), 87% das universidades nacionais, na classificação das 2 mil melhores do mundo, registraram declínio. Dois dias depois, Niède Guidon, fundadora do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, morreu aos 92 anos, depois de dedicar sua vida à arqueologia e dar relevância mundial à pré-história brasileira. Ao mesmo tempo em que se fortalece o alerta da urgência de um debate amplo sobre a importância dos estudos acadêmicos, o país é lembrado do potencial de produção de excelência que possui.
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De acordo com a análise do CWUR, das 53 universidades brasileiras presentes na lista mundial, 46 tiveram queda — somente sete subiram. Quatro pilares sustentam a avaliação aplicada pela organização não governamental: educação (com peso de 25%), empregabilidade (25%), corpo docente (10%) e pesquisa, o fator mais importante, que corresponde a 40% da nota. É claro que, cada vez mais presente, a competição global eleva os níveis da disputa, mas o desempenho comparativo ruim mostrado pelas instituições no país não pode ser minimizado. A possibilidade de investimentos públicos e de contribuições do setor privado também são pontos relevantes e devem servir como estímulo para a busca de soluções, não como justificativas às questões enfrentadas no cenário nacional.
A carência massiva que as academias brasileiras encaram compromete a entrega de conteúdo por parte dos docentes e dos discentes. A gestão da educação superior precisa encontrar caminhos para incentivar as políticas de apoio, proporcionando formação de alta aptidão. Ao mesmo tempo, a produção de conhecimento deve sair dos domínios das universidades, alcançando amplos setores — essa interação é fundamental porque fortalece o ensino e, especialmente, promove o desenvolvimento.
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Os câmpus pelo país precisam de estrutura para ampliar as ações voltadas à inovação e ao intercâmbio internacional, aprimorar os processos e pensar sempre em garantir o bem-estar da comunidade estudantil. É primordial, ainda, o constante estímulo a projetos de impacto social. O ensino em sua instância de formação profissional precisa dialogar com o avanço da tecnologia, que causa mudanças marcantes no universo do trabalho e no cotidiano das pessoas. Além da ética, da preparação de mão de obra competente, o diploma precisa carregar a capacidade de criação inclusiva e de responsabilidade socioambiental. Sem se reinventar, acompanhar as melhores universidades do mundo vira uma tarefa difícil.
O compromisso com a qualidade e com a produção científica faz a diferença no âmbito acadêmico, mas principalmente, no crescimento do país. Uma nação se desenvolve a partir da educação — e ver indicadores brasileiros nesse quesito caírem exige reflexões. É fundamental unir o empenho dos governos, das instituições e dos cidadãos em favor de um ensino capaz de encontrar saídas para os desafios que a atualidade apresenta. Se o Brasil investir na vocação crítica e transformadora que está espalhada pelas salas de aulas de suas universidades, com certeza, o sucesso alcançado por pesquisadoras como Niède Guidon será multiplicado.