
O ex-ministro do Turismo Gilson Machado foi preso preventivamente pela Polícia Federal, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), sob suspeita de participação em um plano para que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, fugisse do país. À noite, porém, a detenção foi revogada e substituída por medidas cautelares.
O ministro Alexandre de Moraes argumentou que a prisão preventiva não se fazia mais necessária, porém determinou que Gilson Machado compareça à Justiça a cada 15 dias e o proibiu de sair da comarca. Ordenou, ainda, o cancelamento do aporte dele.
A detenção do ex-ministro foi pedida ao STF pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O órgão justificou haver a suspeita de que Gilson Machado tentou obter um aporte português para Cid. Também nesta sexta-feira, o tenente-coronel teve a prisão preventiva determinada por Moraes, mas o ministro a revogou antes mesmo do seu cumprimento. Mesmo assim, ordenou que o militar prestasse esclarecimento à PF.
Em nota assim que foi preso, no Recife, Gilson Machado declarou “total inocência” e se disse injustiçado. “Diante da decretação da minha prisão preventiva, venho a público reafirmar minha total inocência. Não cometi crime algum. Não matei, não roubei, não trafiquei drogas”, enfatizou. “O que fiz foi apenas pedir informações sobre a renovação do aporte do meu pai, um senhor de 85 anos.”
No comunicado, ressaltou que nunca esteve em consulado ou embaixada. “É só verificarem as ligações que fiz para o consulado e os áudios que enviei aos funcionários. Eu nunca estive presente em nenhum consulado ou embaixada — nem de Portugal, nem de qualquer outro país — seja no Brasil ou no exterior. Tudo o que fiz foi um gesto de cuidado com meu pai, nada além disso”, insistiu.
O STF já tinha suspeitas de uma possível tentativa de fuga de Cid. Em 30 de maio, a PF informou à PGR que quatro familiares do militar saíram do país, com destino a Los Angeles, Estados Unidos, em voo com escala na Cidade do Panamá.
Entre as suspeitas que levaram a PGR a pedir a prisão do réu está um arquivo armazenado no celular de Cid, apreendido em 2023 na investigação da tentativa de golpe, que aponta que o delator procurou serviço de assessoria para obtenção da cidadania portuguesa. Na época, ele enviou imagens da carteira funcional, comprovante de cidadania portuguesa e do aporte português de sua mãe.
Em fevereiro deste ano, Moraes havia cobrado explicações formais a Cid acerca do pedido de documentos para obtenção da cidadania portuguesa.
A equipe jurídica de Cid respondeu negando qualquer intenção de fuga do país. Segundo os advogados, o pedido de cidadania foi feito em 11 de janeiro de 2023, três dias após os ataques antidemocráticos.
De acordo com a defesa, o requerimento se justificaria pelo fato de a esposa e as filhas de Cid já possuírem cidadania portuguesa. Ainda segundo o comunicado, a cédula de identidade foi emitida apenas em 2024 e teria utilidade restrita ao território português, sendo válida somente para o a serviços básicos e identificação civil.
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aporte
A defesa ressaltou que Cid não solicitou nem possui aporte português — documento que permitiria trânsito internacional pela União Europeia e países com acordos de livre circulação com o bloco.
“O peticionante celebrou acordo de delação premiada, com uso de tornozeleira eletrônica, sendo impossível empreender viagem para o exterior sem autorização desse juízo”, disse Bittencourt na ocasião.
A determinação da prisão preventiva de Cid, nesta sexta-feira, foi revogada enquanto ele se deslocava para o batalhão do Exército, em Brasília, onde seria detido. “Foi um equívoco”, disse ao Correio o advogado de defesa do ex-ajudante de ordens, Cezar Bittencourt, sobre o pedido de prisão. “Nunca houve tentativa de fuga. Ele está aqui, mora aqui, tem endereço certo, tem residência fixa, tem advogado. Foi revogada a prisão. Foi um equívoco”, frisou.
O depoimento de Cid à PF, que durou mais de três horas, está em sigilo. Bittencourt informou que o militar negou, aos agentes, uma tentativa de fuga.
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