
A diástase abdominal acontece pela separação anormal dos músculos que formam a parede anterior do abdômen, os chamados retos abdominais. Localizados lado a lado, a separação com 2,5cm é considerada um grau leve, e de 5cm para cima, moderada a grave.
Segundo Tatianna Ribeiro, médica ginecologista e obstetra da clínica Rehgio, a diástase, embora seja mais comum em gestantes, não acontece só durante a gravidez. "Também pode afetar homens, mulheres não grávidas e até bebês (principalmente prematuros), especialmente quando há aumento da pressão dentro do abdômen, seja por obesidade, esforço físico exagerado e equivocado, seja por tosse crônica ou prisão de ventre intensa", explica a médica.
Mas, durante a gravidez, alguns fatores aumentam o risco de desenvolver o problema. A expansão do útero, consequentemente o alongamento da barriga para acomodar o bebê, junto com o efeito de hormônios que amolecem os tecidos, o ganho de peso e fatores genéticos são os responsáveis pelo desenvolvimento da diástase.
De acordo com Monique Novacek, ginecologista, obstetra e mastologista da Clínica Mantelli, a diástase pode dar seus primeiros sinais durante a gestação. Em alguns casos, durante o pré-natal, o médico pode suspeitar, examinando a barriga, mas o diagnóstico costuma ser mais comum no pós-parto. "Ela começa a aparecer, normalmente, a partir do segundo ou do terceiro trimestre na gestação, que é quando o útero começa a crescer, sair da pelve e ir para a parte abdominal. Mas, muitas vezes, a gente vai perceber mais no pós-parto, quando o corpo da mulher vai voltando ao normal."
O número de gestações, gestações gemelares, período entre os partos e o tamanho do bebê são alguns fatores que aumentam o risco de a mãe desenvolver diástase. "O risco aumenta a partir da segunda, terceira ou quarta gestação, porque o músculo já não está mais tão rígido. Claro que a genética da mulher, a idade, o quanto ela pratica atividade física vão influenciar bastante. O tipo de parto, normal ou cesárea, não faz diferença para a questão da diástase, sendo mais ligada às condições da gestação e da mulher do que à via de parto", finaliza.
É muito comum as pessoas confundirem a diástase com hérnia. O que as diferencia é que a hérnia ocorre quando uma parte de algum órgão se posta por conta de uma fraqueza abdominal, podendo aparecer na mesma região da diástase. Os pacientes que já sofrem com a hérnia podem ter uma piora dela com a diástase.
Sintomas e riscos
A diástase pode trazer diversos desconfortos físicos e, principalmente, estéticos, como:
-Projeção e flacidez do abdome
-Fraqueza do core (músculos estabilizadores)
-Postura incorreta e relaxada
-Dores na região da lombar, pelve ou no quadril
-Em alguns casos, incontinência urinária
Todos esses sintomas, em conjunto, ocorrem porque a diástase afeta a chamada região do core, que é o centro da força e da estabilidade do corpo, formado pelos músculos do abdome, do assoalho pélvico e do diafragma. A fraqueza e o desequilíbrio muscular podem comprometer a estabilidade da estrutura corporal, favorecendo a má postura. Se esses sintomas forem observados, é necessária uma avaliação médica.
Diagnóstico
O diagnóstico costuma ser feito por meio de exames de imagem, junto com um acompanhamento profissional, e, quanto mais cedo, maiores as chances de reverter o quadro. Quando não tratada da maneira correta, a diástase pode prejudicar a qualidade de vida e levar à dor lombar crônica; ao comprometimento da postura; a maior risco de lesão durante atividades físicas e cotidianas; ao surgimento de hérnias e a problemas de incontinência urinária.
Tipos
Existem quatro tipos e níveis de diástase:
-Ruptura total: separação completa dos músculos ao longo de todo o abdome
-Ruptura central: a separação ocorre de maneira mais localizada, na área central do abdome
-Ruptura acima do umbigo: esse afastamento desencadeia a sensação de "estômago alto"
-Ruptura abaixo do umbigo: causa um desconforto localizado abaixo do umbigo
Tratamento
Segundo Tatianna Ribeiro, o tratamento indicado vai variar de acordo com a gravidade do caso, desde indicações mais convencionais até uma intervenção invasiva. "Em grande parte das situações, é possível tratar com medidas não cirúrgicas, como fisioterapia especializada (reeducação postural, fortalecimento do core, exercícios respiratórios e do assoalho pélvico); treinos específicos com orientação profissional; e com o uso de faixas ou cintas, em alguns casos, como apoio temporário."
A intervenção cirúrgica é indicada apenas em casos graves ou quando o tratamento conservador não soluciona o problema. Pode ser indicada como uma cirurgia funcional, estética ou ambas, dependendo do caso.
Tem como prevenir?
É possível prevenir a diástase com alguns cuidados:
-Fortalecer a musculatura abdominal e do assoalho pélvico antes e durante a gestação
-Controlar o ganho de peso
-Cuidar da postura no dia a dia
Palavra do especialista
Quais cuidados devem ser tomados no pós-parto para evitar o agravamento da diástase?
Após o parto, é essencial que a mulher e por uma avaliação com um profissional de saúde, preferencialmente um fisioterapeuta especializado, para identificar o melhor plano de reabilitação. A atuação integrada com profissionais de educação física e nutrição também pode contribuir muito nesse processo.
Não há exercícios físicos contraindicados de forma generalizada no pós-parto, mas é preciso considerar as particularidades de cada mulher. Além disso, no dia a dia, a atenção aos cuidados ergonômicos é indispensável: como se sentar para amamentar, como dar banho no bebê ou pegar outro filho no colo. Tudo isso pode impactar diretamente a recuperação da musculatura abdominal e evitar a sobrecarga.
A diástase pode se resolver sozinha? Quando a cirurgia é indicada?
É esperado que a diástase se reduza espontaneamente até o primeiro ano após o parto. Ainda assim, quanto antes a mulher iniciar um programa de reabilitação, melhores serão os resultados, tanto na qualidade de vida quanto na autoestima. A diástase representa a separação do músculo reto abdominal. Para os profissionais da área, o mais importante não é apenas a distância entre os músculos, mas a funcionalidade do abdome, ou seja, se ele é capaz de se contrair bem e sustentar o corpo com segurança e baixa pressão.
A cirurgia costuma ser indicada apenas como última opção, especialmente em casos em que a separação abdominal compromete severamente a funcionalidade ou causa um impacto estético significativo, afetando a autoestima da paciente. Contudo, é importante destacar que, mesmo com a cirurgia, se a musculatura não estiver funcional, os sintomas e disfunções podem persistir. Por isso, o ideal é sempre priorizar a reabilitação com profissionais habilitados antes de considerar a intervenção cirúrgica.
Quais são os exercícios mais indicados e quais devem ser evitados?
Ainda não existe um protocolo único e definitivo na literatura científica para o tratamento da diástase, mas há um consenso: os exercícios devem priorizar a estabilidade abdominal. Os mais indicados são aqueles que ativam o transverso do abdome, o músculo mais profundo da região, de forma progressiva, para então incluir músculos como o reto abdominal e os oblíquos, sempre com atenção à estabilidade e sem aumento da pressão intra-abdominal. Devem ser evitados exercícios que provoquem o abaulamento do abdome. Isso pode acontecer em movimentos aparentemente inofensivos, como o uso da cadeira extensora na academia, se a ativação abdominal estiver incorreta. O foco não é proibir certos tipos de abdominais, mas, sim, observar como o corpo da mulher responde a cada movimento. O objetivo é preservar um abdome funcional e estável, sem forçar a musculatura de forma inadequada.
Samila Santos é professora de fisioterapia do Ceub
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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