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A cultura que nos habita

Entenda a “cultura Invisível”, como ela molda nossa vida e como ela influencia nossa existência!

A cultura que nos habita -  (crédito: Uai Turismo)
A cultura que nos habita - (crédito: Uai Turismo)
A cultura que nos habita (Mercearia Paraopeba em Itabirito/ MG (Foto: Euzébio de Andrade Silva))

A proposta de hoje, é refletirmos sobre como entendemos, vivemos, percebemos e usamos a cultura ou o modo de vida que levamos! Outro dia, em uma praça de minha cidade, dessas tantas que resistem ao concreto, vi uma roda de capoeira, muito animada e um pouco mais à frente, um grupo de jovens ensaiando uns os, que me pareceram hip hop. Observei!

Mais adiante, em outra praça, um senhor, provavelmente representando alguma denominação evangélica, afinava seu violão com o cuidado de quem afaga um filho e preparava o espaço para sua pregação, provavelmente solitária, devido ao horário do feito. A poucos metros dali crianças e jovens, da escola da APAE, aprendiam toques e ritmos, ensaiando naquele espaço a famosa “Banda Boa” da escola. Tudo gratuito e tudo vivo, naturalmente compartilhado.

E observando tudo isso, em meio ao movimento comercial de uma cidade do interior de Minas Gerais, me veio o questionamento, será que a gente entende, de fato, o papel da cultura em nossa vida? Porque cultura, meus amigos, não é só o show ao vivo nos bares nas noites de sábado ou a novela das nove na TV, ou a peça em cartaz no teatro.

O que é cultura?

Cultura é alimento, é afeto, envolvimento e identidade! É como se fosse um espelho onde, ao olharmos, reconhecemos quem somos e até percebermos, quem gostaríamos de ser. A atividade cultural, muitas vezes tratada como luxo ou apêndice do quotidiano, é de verdade, nossa base. É a cultura que nos estrutura silenciosamente, nos molda em valores, em percepção do mundo, em formas de convivência.

Infelizmente, o que vemos com certa frequência, é uma percepção distorcida, ou preconceituosa da cultura como evento, como gasto supérfluo, como exclusividade da elite, que sinceramente, nem sei se existe mesmo.

Me impressiona, como não se percebe que uma cidade que dança, canta, pinta, escreve ou assiste a um bom espetáculo em qualquer segmento cultural em uma praça pública, em um espaço de convivência social, é uma cidade que respira, que sonha, que se entende.

Grafite (Foto: Boris Mayer/ Pixabay)

Acredito muito na promoção de atividades culturais em bairros, escolas e centros comunitários, porque não é luxo, é direito, é estratégia de cuidado e até de prevenção social. É assim, entre oficinas de teatro e rodas de leitura, que se combatem a violência, o isolamento e a desesperança.

Digo com certa propriedade, que um violão nas mãos de um adolescente pode pesar mais que qualquer discurso. Um palco pode valer mais que mil sermões. E, vejam bem, não estou falando de uma utopia distante. No Brasil de hoje, mesmo com todos os desafios, há uma imensidão de iniciativas que apostam na formação artística como ferramenta de transformação.

Projetos sociais, coletivos culturais, ONGs, centros de referência espalhados por capitais e pelo interior, muitas vezes, oferecendo formação gratuita ou com custos simbólicos.

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Pare para observar, há oficinas de audiovisual nas periferias dos grandes centros, cursos de teatro em comunidades menos favorecidas, escolas de música popular em comunidades, projetos de formação em dança contemporânea, circo, hip-hop, capoeira, literatura, tudo fervilhando em um país que insiste e resiste pulsando, apesar dos pesares.

A inovação e a tecnologia presentes nas plataformas digitais de o gratuito, editais inclusivos, redes e coletivos de articulação social e cultural têm se multiplicado, embora ainda careçam de mais visibilidade e mais apoio.

O que falta, muitas vezes, é articulação e que se entenda, de forma mais ampla, que para fomentar cultura é preciso de políticas públicas de base. Investimento em cultura não é esmola, pelo contrário, é estratégia de desenvolvimento.

E cá pra nós, cultura não é só entretenimento. Vamos afinar nosso olhar e entendermos que cultura, é ferramenta de formação crítica, de empoderamento, de cidadania.

A comunidade artística nas cidades, não é um enfeite social. São os artistas, quem nos ajudam a ver o que está oculto, a sentir o que não tem nome, a imaginar o que ainda não existe. E o produtor cultural, esse elo entre o invisível e o possível, carrega nas costas o ofício de construir pontes entre linguagens, entre mundos, entre futuros possíveis. Confesso, que já exerci esse papel por longos anos e com muito prazer!

Ainda assim é preciso, que mais olhos se abram. Que gestores percebam o valor estratégico da cultura. Que empresas entendam que patrocinar arte é investir em capital humano e social.

Que a sociedade reconheça nos artistas, nos técnicos, nos educadores culturais, agentes de transformação, como de fato o são. E que os próprios artistas se fortaleçam em rede, buscando mais atitudes, mais união e caminhos de sustentabilidade e o.

No fim das contas, a cultura não é só o que se vê nos palcos, mas o que ecoa depois do silêncio, o que fica quando a luz se apaga. A cultura é o que molda a alma de uma cidade.

Quando a cultura vem à praça

É por isso que os espaços de convivência nas cidades, como praças e salões comunitários, bibliotecas, estúdios de arte, são verdadeiros pulmões sociais, onde a vida em comunidade acontece de forma genuína. Eles são lugares de encontro, de troca de experiências e de construção coletiva, especialmente para aqueles que têm menos o a opções de lazer e cultura.

Nas cidades, é fundamental que as praças sejam bem cuidadas, limpas, íveis. É ali, que muitos encontrarão o palco para se manifestar e apresentar sua vocação artística. Os espaços de convivência das cidades, são um refúgio para uma leitura ao ar livre, é um território de brincadeiras e respiro para quem precisa de um momento de pausa na correria da vida urbana.

Cultura Popular (Foto: Acervo Ubiraney Silva)

Os salões comunitários, por sua vez, são como extensões das casas dos moradores, onde reuniões, oficinas, festas e projetos sociais ganham forma, criando um senso de pertencimento essencial para o fortalecimento da identidade local por isso, que cada vez mais as comunidades precisam entender, que vida boa é vida compartilhada, participativa.

Existem cidades que se reinventam pelo concreto, outras, pela poesia. Medellín, na Colômbia, que já foi sinônimo de violência, medo e exclusão, em um momento crucial, decidiu plantar bibliotecas nos morros, as chamadas Bibliotecas Parque.

Foi ali, que as comunidades sofridas viram brotar algo mais forte que o medo, o pertencimento. Estes equipamentos socioculturais, as Bibliotecas Parque nasceram ali como faróis em meio ao abandono, levando não apenas livros, mas liberdade, dignidade, o, arte, conexão.

As estruturas, foram pensadas como espaços de convivência e transformação social, onde o conhecimento circula como bem comum e a cultura a a fazer parte da paisagem urbana e do dia a dia do povo.

Fiquei bastante impactado, quando conheci essa iniciativa. Esse “remédio social, me faz pensar no Brasil, onde praças públicas, mesmo esquecidas por políticas permanentes, ainda resistem como palcos da esperança.

Iniciativas que atraem todo tipo de público

Vejam que convivemos com a Virada Cultural de São Paulo ou a de Belo Horizonte. Nestes eventos, durante 24 horas, as cidades se transmutam, são tomadas por música, dança, teatro, oficinas, encontros, boas surpresas.

Não se cobra ingresso nem se exige endereço, basta estar ali e aproveitar. É naqueles momentos, que a arte volta às ruas e lembra a todos, que ela é um direito. O samba é de todos e a poesia também!

Guardados os cuidados necessários com a segurança do público e garantindo uma boa infraestrutura de serviços, é muito bonito vermos como o povo responde. Famílias inteiras, jovens, idosos, artistas e ambulantes ocupam as cidades como quem recupera um espaço sagrado.

Isso mesmo, a praça, o coreto, o palco improvisado são nossos terreiros de identidade. As Viradas Culturais são mais que um evento, é a confirmação de que a cultura pulsa, apesar dos silêncios forçados e dos recorrentes cortes orçamentários. E ela está ali, disponível para todos.

Agora, melhor que isso, é sabermos que a força da cultura brasileira não vive só nas cidades grandes. Existe um Brasil profundo que, mesmo sem os holofotes, mantém viva a chama da arte, da memória e do afeto cultural.

A semente da cultura floresce

De pronto, lembro aqui por exemplo, no “Brumal Agosto”, em Brumal, distrito de Santa Bárbara, Minas Gerais. Ali, em um cenário fabuloso, o mês de agosto vira festa, mas não só isso, vira espaço de reconexão com o ado, com os saberes e ofícios manuais, com o folclore e o fazer artístico que brota das mãos do povo.

Por lá, entre cantorias, bordados, encenações e quitandas, o que se celebra é a cultura como herança viva e isso é educação, é patrimônio preservado, isso sim é resistência!

E pra não deixar o meu cantinho no mapa, o que dizer do Julifest de Itabirito, também em Minas?

Julifest (Foto: Acervo Ubiraney Silva)

Uma festa junina, mas com alma grande. A festa vai além da quadrilha e da fogueira. A Julifest foi pensada, décadas atrás, para ser uma aula pública de cultura brasileira. Entre barraquinhas, sanfonas e muito forró, revelava um projeto robusto de educação patrimonial com os sabores da roça, os saberes da construção em pau a pique, a tradição das cantigas que vêm do tempo da infância, dos avós.

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Tudo isso sendo ado adiante não como peça de museu, mas como coisa viva, vibrante, alegre. Até hoje a festa resiste e se consolida como o maior e mais genuíno festival junino de Minas Gerais, naturalmente que repaginado e já contaminado com influências tecnológicas e inovações da modernidade, mas não perde seus atributos de sabores, costumes e tradições do modo de vida do interior do Brasil.

E é aqui que voltamos ao ponto essencial, cultura não é apenas o que se vê, mas o que se vive. É o que está nos gestos, nas receitas, nos instrumentos, nas danças. É o que ensina sem parecer lição. É o que educa com alegria, o que forma com festa, o que transforma com leveza.

São iniciativas como essas de Medellín às praças de São Paulo, da praça da Matriz de Brumal ao grande arraial de Itabirito, que nos mostram o caminho. Cultura é semente, e onde ela cai, o chão floresce!

Poético não é!! Mas para que a cultura floresça mais e melhor, é preciso investimento e visão. É necessário que o poder público entenda que cada estrutura erguida, cada palco montado na praça, cada festa tradicional revitalizada é uma aposta no futuro. Um jovem que dança, um idoso que conta causos, um aluno que aprende a tocar um repinique, são cidadãos em formação e formação, é política de base.

E muito importante, é preciso que o o seja garantido, porque o talento existe por toda parte, mas o que falta, muitas vezes, são oportunidades. Aí voltamos à gratuidade, à inclusão, ao estímulo real a projetos que democratizem o fazer cultural. O exemplo está posto.

Que Medellín nos inspire, que Itabirito nos ensine, que brumal nos emocione, como tantas outras iniciativas que fervilham por esse Brasil e que a cultura continue a nos habitar, como verbo, como encontro, como território onde todos têm lugar!

Até a próxima.

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postado em 31/05/2025 06:05
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