
Stepan Nercessian lembra de ouvir falar de Assis Chateaubriand na infância como um nome que aparecia nas mesmas conversas das quais brotavam referências a gente como Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas. "Estava todo mundo no mesmo bolo, mais ou menos. Próximo e distante da gente", brinca o ator, que vive o personagem no musical Chatô e os Diários Associados — 100 Anos de Paixão.
Inspirado no livro Chatô: o rei do Brasil, de Fernando Morais, o musical conta a história de um dos maiores magnatas da comunicação do Brasil. Assis Chateaubriand foi o responsável por trazer a televisão para o Brasil. Fundou o Diários Associados, um conglomerado que reunia mais de 100 empresas de comunicação. Com a Rádio Nacional e a Rádio Tupi, revelou algumas das maiores vozes da música brasileira. Também esteve na base de fundação do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e foi senador da República. Chatô e os Diários Associados — 100 Anos de paixão chega a Brasília na próxima quarta-feira e será apresentado no Centro de Convenções Ulysses, em duas sessões.
Dirigido por Tadeu Aguiar e com adaptação de Eduardo Bakr, o musical reúne 20 atores para contar a trajetória de Chatô. São mais de 50 músicas assinadas por compositores como Caetano Veloso, Gal Costa e Ivan Lins. A coreografia é assinada por Carlinhos de Jesus e a supervisão musical, por Guto Graça Melo.
Para entrar na pele de Chatô, Stepan Nercessian não fez nenhum tipo de preparação especial, apenas tentou entender a personalidade do magnata e como ele se relacionava com o mundo. "Tem duas coisas no Chatô: a importância desse homem, com a influência na política brasileira, na comunicação, no jornalismo, no futuro, enfim, e a contribuição dele para o Brasil. E a vida pessoal, marcada, como ele mesmo dizia, por gestos suspeitos. Era considerado um mulherengo, chantagista, tem todo um lado que pesava negativamente na biografia dele e que não dá para isolar do outro", diz o ator.
No palco, Nercessian é o único que não dança e não canta. "Sabe que sou um fenômeno, o único artista que faz musical um atrás do outro que nem canta nem dança", brinca o ator, que está acostumado ao gênero depois de fazer Chacrinha, o musical e O rei do rock, sobre Elvis Presley. Em entrevista, o ator fala sobre o musical, a época de Chatô e a importância do personagem para o país.
Entrevista // Stepan Nercessian
Quem é o Chatô para você?
O Chatô é um personagem que está no ar, na vida das pessoas. Tudo que conseguiu fazer! As falcatruas e as loucuras dele não diferem nada do que é feito hoje, só que as dele eram escancaradas. Ele meio que fazia questão de mostrar que estava esculhambando com tudo. Foi um cara que não era da periferia do poder no Brasil, ele era do centro do poder. Talvez tenha sido a pessoa mais influente que já vi em relação a presidente, a burguesia. Era um cara futurista, visionário. Acho que, se estivesse hoje aqui, estaria batendo boca com Elon Musk, teria trazido internet para o Brasil, estaria brigando pela IA. Não se contentava com pouco. E, ao mesmo tempo, era um homem culto, que lia muito, estudava muito, conhecia filosofia, falava alemão. Um personagem riquíssimo e a gente, nesse espetáculo, faz uma parte dessa vida.
Como você se preparou para viver o personagem?
Não fiz nenhum mergulho de preparação psicológica de como ele era fisicamente e tal. Até tinha poucas informações dessas. E eu me prepararei para mostrar a personalidade com o máximo de departamentos dessa personalidade. O Chatô era autoritário, com senso de humor, mulherengo, de tudo isso eu fiz um recorte, enquanto o musical vai contando a história. Ele teve enorme importância para a música e cultura brasileiras, todos os grandes artistas aram pela TV Tupi, os maiores jornalistas do Brasil, todos aram pelos Diários Associados. Então essa habilidade, esse dom de aglutinar gente talentosíssima em volta dele é que me fez construir tudo isso iravelmente. E o cara depois foi sendo aquele negócio de ser tudo o que queria ser: senador, membro da ABL. Então eu pensei o que tenho é que fazer isso, quem vai dizer o que acha são os outros, não julgo o personagem.
Você já fez três musicais, embora não cante nem dance. Você gosta de musical?
Fiquei muito encantado com o universo musical, e principalmente, e estou ainda, o tempo todo, maravilhado com o talento dos artistas do musical brasileiro. Estamos no nível internacional de teatro musical. Nossa, é muita gente cantando maravilhosamente bem. Tanto que nesse espetáculo em vários momentos a plateia se emociona completamente com a música, com a interpretação dos artistas, aplaudem de pé, tamanho talento desse elenco. E nem sempre é muito valorizado. São batalhadores, trabalham muito. São extremamente talentosos. As pessoas saem encantadas com a qualidade dos músicos, musical, dos diretores. E fazer um musical brasileiro então. Fiz Chacrinha, Rei do Rock e esse. Todos três de grande sucesso. É incrível como o público sai grato com a qualidade, as pessoas comentam muito comigo, que não sabiam que tinha tanto artista no Brasil que dança e canta também. Me deixou muito feliz, foi outra tribo com a qual fui conviver. E você protagonizando um espetáculo vc é um pouco Assis Chateaubriand também. O elenco com quantidade enorme de pessoas e eu à frente tocando o barco para que possam ir realizando e ao mesmo tempo como protagonista sempre com a preocupação de me colocar a favor e defendendo a ideia de que todos são protagonistas de suas cenas. Em determinado instante todo mundo está apropriando o espetáculo.
Classificação Indicativa: 10 anos
Chatô e os Diários Associados —100 Anos de Paixão
No dia 11 de junho, às 16h e às 20h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos: de R$50 a R$ 200. Não recomendado para
menores de 10 anos